Arquitetura Biofílica – algumas considerações

O design biofílico pode aumentar a capacidade de concentração e a criatividade. Além de contribuir com a produtividade, reduzir o estresse, irritação e a manifestação de uma série de transtornos como ansiedade e depressão1.

Atualmente passamos cerca de 90% do tempo de nossas vidas em centros urbanos e no interior de ambientes construídos, como edifícios e automóveis2. Se por um lado viver nesses ambientes permitiu o florescimento de nossa civilização como nós a conhecemos, por outro ampliou, em uma escala nunca vista, o distanciamento do ser humano do mudo natural.

As consequências desse distanciamento são muitas: ambientes degradados, corpos d’água poluídos, consumo exacerbado de recursos naturais e fontes de energia. Além de uma sociedade doente3.

Uma saída apontada por teóricos, filósofos, médicos, pesquisadores e profissionais de design é a aplicação de elementos e condições próximas do ambiente natural dentro e no entorno dos ambientes construídos. Esse é o princípio que norteia a arquitetura e o designer biofílico.

O termo Biofilia foi utilizado por psicólogos para explicar a aversão à morte indicando um sinal claro de saúde física e mental.

Para O. Wilson, ecólogo e biólogo norte americano, o termo vem do grego: bio é relativo à vida e philia que significa amor, afeição. O conceito ganhou relevância após a publicação de seu livro, intitulado Biofilia, em 1984.

Segundo Wilson, a biofilia está inscrita no próprio cérebro, expressando dezenas de milhares de anos de experiência evolutiva. Em sua hipótese, os seres humanos procuram, inconscientemente, uma ligação emocional e afetiva com outras formas de vida.

Mais do que conceitos teóricos e filosóficos, a arquitetura biofílica propõe estratégias e técnicas de planejamento de espaços que podem, em diversos graus, contribuir para uma vida humana mais integrada com a natureza e seus ciclos naturais. Criando assim um ciclo de ganha-ganha: ganha a natureza e, consequentemente, a sociedade.

 

Croquis elaborados por nosso colaborador Nicolas Gudici para o estudo da incorporação de componentes do designer biofílico no projeto do Puerto Liebig, Paraguay.

Segundo o Biophilic Cities Project, uma rede de pesquisa encabeçada pela Universidade de Arquitetura da Virginia, USA, existem algumas diretrizes que devem ser levadas em conta nos projetos que se inspirem na arquitetura biofílica:

  • Plantas no ambiente interno. Além de trazê-las para dentro, o ideal é que a paisagem externa também possa ser apreciada de dentro desses edifícios. A conexão entre o jardim interno e externo, por exemplo, é uma das formas de criar esse contexto.
  • A construção deve revisitar padrões orgânicos, encontrados na natureza. Escadas em formas espirais e fractais ou texturas e desenhos de elementos naturais como as ranhuras de certas folhas.
  • A luz é parte essencial de um projeto biofílico. Quanto mais luz natural, melhor. Porém, pesquisas comprovam que quando não for possível, criar sistemas de iluminação que repitam os ciclos de luminosidade naturais. Tanto os humanos, quanto os outros seres vivos com quem dividimos o ambiente, se beneficiam.
  • Nossos corpos e mentes apreciam a presença de água. Fontes, pequenos riachos e cascatas de jardins. Ou mesmo uma janela ampla com vista para um rio, lago ou oceano, são pontos focais que devem ser introduzidos, sempre que possível, em um projeto biofílico.
  • Correntes de ar ajudam a criar uma sensação de se estar em um ambiente externo e natural. Elas contribuem para manter as pessoas acordadas e concentradas. Sempre que possível o vento deve vir de fora. Quando não for possível, é indicado planejar um sistema de ventilação que preserve o movimento dos ventos.
  • Acionar os cinco sentidos. Percebemos o mundo por eles e ao acionar, o maior número de sentidos, criamos realidades virtuais mais fáceis de serem captadas pelo cérebro. Os aromas, como os de flores e de plantas, além de sons naturais, como do canto dos pássaros, são essenciais. Materiais orgânicos e naturais também devem estar presentes e acessíveis ao tato, como: madeira, barro, pedras, entre outros.
  • Elementos que tragam a natureza, mesmo não naturais, para ambientes internos, como quadros com paisagens expostas nas paredes, também geram benefícios.

É importante entendermos como biofilia é despertada, como prospera, o que ela nos fornece e como está sendo utilizada para melhorar a experiência humana em ambientes construídos4. Nós da Studio Mind concentramos esforços em incorporar esses elementos nos mais diversos projetos.

Assim será possível projetar e construir ambientes que colaborem com a saúde física e mental humana e um meio ambiente mais equilibrado.

 

Fernanda Cornils M. Benevides
Assessora de imprensa e meio ambiente da Studio Mind – arquitetura – urbanismo e planejamento e PhD em Desenvolvimento Sustentável


1 Para saber mais sobre a influência do espaço construído no estado psicológico e mental das pessoas procure as pesquisas dos neurocientistas Cooper & Burton (2014); Passini, Pigot, Rainville & Tétreault (2000); Mehta & Zhu (2009).
2 Para saber mais consultar os estudos de Evans & McCoy (1998).
3 Para saber mais como Sociedades Humanas Colapsaram devido a falta de cuidado com o ambiente natural, leia as obras de Jared Diamond, entre elas: O Colapso: como as Sociedade escolhem o fracasso ou o Sucesso.
4 Para saber mais sobre os conceitos e aplicação da biofilia na arquitetura e nas cidades: 14 Patterns of Biophilic Design articula as relações entre a natureza, a biologia humana e o design do ambiente construído.